
Psicologia Clínica
Bia Muniz
Psicoterapia | Psicologia Pré e Perinatal


Engravidar Vs. Ser mãe
O desejo de engravidar nem sempre é acompanhado pelo desejo de ser mãe. Parece contraditório…e é. Algumas mulheres desejam ter filhos, porém as consequências desta decisão, como a responsabilidade e a doação agregadas ao papel materno, não são conscientemente levadas em consideração. É o que a psicóloga portuguesaIsabel Leal atenta em suas pesquisas e o que eu particularmente concordo e vejo acontecer.
O bebê, como sabemos, ao nascer, é totalmente dependente de seu cuidador, neste caso falo da mãe. O que não quer dizer que o cuidado com o bebê tem uma regra universal. Contudo, as necessidades básicas do ser humano são conhecidas e incontestáveis quando chega ao mundo. Winnicott apontava para a função materna pontuando a função de “holding” que é tanto a forma como se segura o bebê (passando segurança, afeto e conforto, fundamentais para seu desenvolvimento), como o suporte que ocorre quando a mãe se oferece enquanto meio ou ponte para o mundo em seu entorno.
John Bowlby falou desta função apontando para a necessidade que temos do vínculo seguro e certo para nos desenvolvermos. Reich falava do amor maduro, da capacidade dos pais para amar seus filhos com maturidade e sinceridade, se oferecendo assim, como base saudável para o desenvolvimento do bebê. Thomas Verny pontua as habilidades dos pais como extremamente necessárias ao seu bom desenvolvimento. Outros tantos autores escreveram e escrevem sobre o assunto.
A gestação, daquela forma, quando não vinculada ao ‘ser mãe’, passa a ser uma experiência unicamente pessoal, corporal, sensorial, etc. e deixa de ser uma forma da mulher estar com o bebê, de reconhecer sua existência, não se relaciona com ele(a).
Desta forma, quando chega o momento do parto, a mulher tem mais chances de estar angustiada e com medo. O parto natural tende a ser dificultado, isso quando justamente por não se envolver, a mulher resolve fazer uma cesariana, para que alguém o faça por ela. Pode-se observar também como efeito deste fato, as dificuldades encontradas pela mãe em não estar mais grávida (“saudade da barriga”), em entender, se comunicar e estar disponível para seu bebê (e/ou seu parceiro), em realizar sua condição de ser responsável por uma vida pelo resto da sua própria. Alguns casos podem ser mais graves como depressão pós parto, por exemplo.
Vejam bem, não é minha intenção acusar mulheres, ou julgá-las, a minha intenção é trazer este fato ao conhecimento das pessoas para que reflitam sobre isso, orientem amigas, irmãs, etc., ou ainda, para as que estão pensando em tornarem-se mães. Que todas estas mulheres (e homens também) saibam que isso pode acontecer e saibam também que podem obter ajuda profissional especializada. Mas, que saibam principalmente, que a psicologia também trabalha com promoção de saúde, e não, como ouvi um dia uma pessoa próxima dizer, “psicólogo é coisa pra maluco”.