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Parto e nascimento com cidadania

 

Medicalização excessiva, problemas no acesso e falta de humanização ainda caracterizam o modelo de assistência a mãe e bebê no país, mas é possível reverter esse cenário.

 

Quando começou a sentir as contrações do trabalho de parto, em casa, na manhã de 27 de março, Juliana de Jesus Costa, 33 anos, sabia para onde queria se dirigir: o Hospital Sofia Feldman, a principal maternidade de Belo Horizonte, a 32 quilômetros de Ribeirão das Neves, região metropolitana, onde mora. No Sofia Feldman, todos os atendimentos são feitos pelo SUS, e no ano passado foram realizados mais de 7 mil partos. Na gravidez do quarto filho, Juliana foi admitida no hospital por volta das 10h, e, como sua gestação transcorreu de forma saudável, foi consultada quanto a dar à luz nas dependências do Centro de Parto Normal David Capistrano da Costa Filho, ou Casa de Parto, espaço contíguo ao do hospital. Juliana, que já conhecia o espaço, onde seus outros três bebês haviam nascido, aceitou.

 

Na Casa de Parto, ela recebeu assistência, do início ao fim, na mesma sala, que conta com dispositivos como banheira e arco metálico, que facilita a postura de cócoras (ver matéria na pág. 15). Essa foi a posição escolhida por Juliana para parir o pequeno Enzo, que nasceu às 11h47, com 3,5 quilos. A equipe que a assistiu se resumia à enfermeira obstétrica Nágela Cristine Pinheiro dos Santos, auxiliada por apenas mais uma enfermeira. A amiga da parturiente, Silvana, ficou todo o tempo ao seu lado e cortou o cordão umbilical do recém-nascido. Não foi necessário administrar medicação, nem houve corte ou sutura da região do períneo (entre a vagina e o ânus). Assim que o parto terminou, o pai de Enzo, Renato Pereira de Souza, emocionado, entrou na sala para conhecer o filho. Ele só não acompanhou o parto porque preferiu assim.

 

O parto de Enzo é um exemplo de processo conduzido de acordo com as boas práticas preconizadas pelo Ministério da Saúde: ambiente seguro e acolhedor, com todos os direitos da mãe e do bebê, como a presença de acompanhante na sala, previstos em lei respeitados. O Centro de Parto Normal onde o menino nasceu e o hospital que o integra são referência de assistência humanizada com iniciativas premiadas que estão servindo de modelo para o programa Rede Cegonha, do ministério (ver matéria na pág. 14).

 

A assistência exemplar ao parto ainda não é a regra. Sequer a via natural de nascimento, o parto normal, é praticado no país na maioria dos nascimentos. Dos cerca de 3 milhões de partos realizados por ano no Brasil, mais da metade (52% em 2010, segundo o DataSUS) se dão por meio de cesariana.

Os dados sobre parto cirúrgico mostram que existe grande discrepância entre o percentual registrado na rede pública, que fica em 37% — já acima do preconizado pela OMS, que estima em 15% o percentual de mulheres que teriam necessidade de passar por uma cesariana para conseguir ter seus filhos — e o estarrecedor índice nacional de 82% na rede privada. Segundo dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos do ministério (Sinasc/MS), entre 1994 e 2007, a taxa de cesarianas aumentou em 44% no país. Medicalização abusiva é o termo que define a situação, mencionado em artigo sobre saúde de mães e crianças, na edição especial Saúde no Brasil da revista inglesa The Lancet, publicado em 2011 (Radis 113).

 

“A maior parte da mulheres faz pré-natal. O problema está mais na qualidade da atenção do que no acesso”, ressalta a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Maria do Carmo Leal, uma das coautoras do artigo. As principais causas diretas de óbito materno são septicemia, hipertensão, hemorragia e complicações decorrentes de aborto, espontâneo ou induzido.

 

“São causas evitáveis, possíveis de serem resolvidas. O país que não cuida bem do momento do nascimento não pode dizer que tem cidadania”, resume Maria do Carmo.

 

Texto retirado da reportagem no seguinte endereço eletrônico: 

http://www.ensp.fiocruz.br/radis/conteudo/parto-e-nascimento-com-cidadania

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